O diafragma e o Rolfing
Diafragma visto de baixo
Por definição, diafragma é qualquer membrana que separa uma cavidade de outra.
O diafragma respiratório é descrito como um músculo delgado e achatado, que separa a cavidade torácica da cavidade abdominal (CAMPIGNION, 1998). Ele tem forma de cúpula, sendo côncavo pela parte de baixo e sua base se alinha com o anel torácico, que é a parte baixa da caixa torácica. Estruturalmente, ele é mais alto do lado direito do que do lado esquerdo, por causa do espaço do músculo cardíaco, ficando mais ou menos na altura da quinta costela do lado direito e da sexta costela, do lado esquerdo. Esta estrutura se relaciona diretamente com as vísceras abdominais embaixo e o pulmão e coração, acima (PLATZER, 1992).
Seu centro é fibroso, enquanto as partes mais periféricas são musculares e podemos dividí-lo em 4 porções: esternal, costal, lombar e o tendão central. A porção esternal insere-se na parte interna do processo xifóide, a parte costal insere-se na parte interna da 7a. a 12a. costelas e essas inserções se alternam com as inserções dos transversos abdominais, estrutura bastante importante na estabilização abdominal.
Pilares do Diafragma
A porção lombar tem inserções desde a primeira a quarta vértebra lombar (Campignion ilustra a quarta lombar como ultima inserção do pilar direito enquanto Platzer ilustra a terceira) onde estas inserções inclusive se cruzam e se agrupam para formar o pilar do diafragma, onde há o orifício da aorta, do esôfago e também algumas arcadas para passagem de outros vasos, nervos e músculos, como por exemplo as fibras do quadrado lombar.
Campignion conta que em suas dissecções é bem claro a ligação da fáscia do diafragma com as fáscias do transverso do abdome, dos quadrados lombares e dos iliopsoas, que também o peritônio, tecido que forra a cavidade abdominal adere a estas fáscias, tendo então relações diretas uns com os outros. Segundo ele, há também uma continuidade da fáscia do diafragma junto com a dos transversos sobre o esterno.
Os órgãos abdominais são “segurados” pelo diafragma por alguns ligamentos suspensores: o frenogástrico para o estômago, o falciforme para o fígado e os frenocólicos que sustentam os intestinos.
Inserções da fáscia endotorácica
Na parte de cima do diafragma, vemos que coração está envolvido por um saco chamado saco fibroso pericárdico, que está ligado fortemente ao diafragma e vários outros elementos: a traqueia, o esôfago, a veia cava superior e a aorta torácica, fazendo deste conjunto uma coluna fibrosa, da 7a. cervical à 4a. torácica, formando a fáscia endotorácica. A partir da 7a. cervical não aparece mais inserções dela na coluna, mas sim suspensas na mandíbula e na base no crânio, no occiptal e no esfenóide, este último através da faringe.
Já as cúpulas pleurais que envolvem os pulmões e formam o vácuo necessário para a respiração, estão inseridas nas costelas, ou seja, na parede costal, são sustentadas a partir dos escalenos, nas 1as. e 2as. costelas. Como a cavidade pleural está “grudada” no gradil costal, este permanece com esse volume mínimo, quando expiramos e o diafragma relaxa e se eleva, como veremos logo abaixo:
Segundo Aline Newton, 1997, em uma respiração normal:
Na inspiração:
- Escalenos contraem e as primeiras costelas se movem para o alto;
- Esterno se move para cima e para frente;
- Na contração do diafragma:
- Sua cúpula desce;
- Largura da caixa torácica aumenta;
- Capacidade volumétrica do tórax aumenta;
- A pressão entre as superfícies pleurais (já negativa devido a adesão costal, como vimos acima) é reduzida ainda mais aumentando a sucção;
- O tecido elástico dos pulmões é alongado e os pulmões se expandem para preencher a cavidade torácica;
- O ar é sugado para dentro da cavidade torácica e entra nos alvéolos pulmonares.
Na expiração:
- Escalenos relaxam e as primeiras costelas descem;
- Diafragma relaxa e sua cúpula se eleva;
- Largura da caixa torácica diminui;
- Pressão pleural aumenta;
- Tecido dos pulmões retorna;
- O ar é forçado para fora dos alvéolos em direção da atmosfera.
RICHARDSON, 1999, citado no artigo de Aline Newton em 2004, relata que o músculo pubococcígeo, integrante do assoalho pélvico, considerado também um diafragma devido a sua forma horizontal, tem respostas contráteis conjuntas com o diafragma.
Podemos observar esta influência quando tossimos ou temos qualquer outra alteração no nosso diafragma, o assoalho pélvico também recebe mudanças (BORDONI, 2013), influência muito importante pensando na continência urinária e sua influência quando tossimos ou mesmo respiramos, sem falar dos vários nervos como o frênico e o vago que passam ou têm terminações ligadas diretamente ao diafragma que podem influenciar diversas funções do nosso sistema nervoso, como causar refluxo ou problemas de deglutição (MULLIN, 2016) enquanto a relação com a boca pode causar problemas respiratórios ou disfunções temporo-mandibulares.
Cavidades do Tronco
Muito fala-se sobre a relação entres os” três diafragmas do corpo” (boca, respiratório e pélvico) e vemos claramente através destas ligações as relações e influências um ao outro.Podemos então concluir que o diafragma tem ligações muito sólidas, direta ou indiretamente e influência em todo o core, desde a boca e occiptais, até as inserções dos iliopsoas passando pela pelve até as pernas pelas faces mediais. Fazendo, assim, que eles influenciem vários sistemas do corpo, e também que os posicionamentos de todos estes tecidos influenciem o músculo e, consequentemente, a respiração e a interrelação de todo o sistema, inclusive postural.
Ligando estas informações com a sequência de sessões e territórios da receita do processo de Rolfing®, fica bem claro a escolha da primeira sessão como tema principal a respiração, já que vimos que ela interfere em diversos fatores fisiológicos e biomecânicos no nosso sistema, inclusive posturais. A abrangência das sessões de core na receita (4a a 7a) é extremamente pertinente aos novos estudos científicos recentes, já que promovem a integração de todas as estruturas do core ligadas entre si como mostram as referências desta pesquisa.
Referências:
BORDONI, Bruno. Anatomic connections of the diafragm: influence of respiration on the body system. Journal of Multidisciplinary Healthcare 2013:6 281–291
CAMPIGNION, Philippe. Respir-Ações: A respiração para uma vida saudável. Summus Editorial. São Paulo, 1996.
NEWTON, Aline. Core stabilization, Core Coordination. Rolf Lines, 2004.
_____, Aline. Breathing in the Gravity Field. Rolf Lines, 1997.
MULLIN, MICHAEL. How our diaphragm can run our lives. https://mjmatc.wordpress.com/2016/04/13/how-our-diaphragm-can-run-our-lives/. Acessado em 24/08/2016.
PLATZER, Werner. Atlas of Human Anatomy: Locomotor System. New York: 1992.
RICHARDSON, Carolyn, et al, Therapeutic Exercise for Spinal Segmental Stabilization in Low Back Pain. Churchill Livingstone, Edinburgh, 1999.