No trabalho como terapeuta do corpo, gosto de me divertir procurando onde está o olhar de criança dos adultos sérios, competentes e bem sucedidos que aparecem no consultório. Faz me lembrar dos Tigres de Papel da Patricia Luzio, onde para tentar enfrentar o mundo criamos nossos grandes personagens por fora e que ao sinal de qualquer chuva, desmancham como papel. Muitas vezes somos obrigados a criar esses tigres para sobreviver na vida adulta, porém se a estrutura floresce de dentro para fora esta criatura deixa de ser necessária e a sustentamos naturalmente, como somos, não como queremos parecer.
Todos temos crianças dentro de nós e ao longo da vida às vezes somos obrigados a escondê-las no quarto escuro para que os outros adultos não a vejam e assim várias crianças ficam ali escondidas nos grupos de adultos formados, sérios e competentes.
Na maioria das vezes elas aparecem numa brechinha da porta do quarto através de um olhar, às vezes em um sorriso, em um movimento contrariado ou em uma postura de defesa. Vê-los aparecer é sinal de que algo ali se modificou no trabalho conjunto, que uma portinha se abriu para uma mudança.
Quando esta criança sai e tem a capacidade de ver o mundo com seus próprios olhos, tem a capacidade de amadurecer naturalmente, mantendo suas qualidades e construindo um ambiente saudável para alcançar a idade adulta.
Ver corpos maduros surgindo de dentro de corpos curvados e imaturos também é algo mágico. O brilho nos olhos de quem, a partir daquele momento, parece ter conquistado e dominado seu próprio território e, tendo ocupado seu mundo interno tem a capacidade de recriar e dominar seu espaço de forma natural. É onde o processo de mudança corporal realmente se consolida.