Postura, músculos e Fortalecimento

Quem nunca puxou os ombros para trás para endireitar as costas? E também percebeu que depois de alguns minutos estava na posição anterior e nada mudou?

Muitos de nós já escutou,  que uma pessoa com má postura precisa fortalecer certas áreas do corpo para que a postura melhore. Para que os músculos fiquem fortes e consiga sustentar a postura. Será que assim que funciona?

Isso é assunto recorrente de consultório e em toda primeira sessão de Rolfing tenho esta conversa com o cliente! Há um senso comum um pouco controverso e vou começar te ajudar a entender o que acontece.

De grosso modo, temos 2 tipos de musculaturas, ou fibras musculares:

• As fásicas, destinadas a realizar movimento, são mais superficiais no corpo e tendem a consumir mais oxigênio pois sua fisiologia é diferente. Usamos estas estruturas preferencialmente para, como dito anteriormente, nos movimentarmos: andar, correr, pegar, carregar. Elas são feitas para contraírem e relaxarem e se fadigam mais rápido quando submetidas a esforço, se recuperando e logo depois podem ser usadas novamente.
• As  tônicas, são destinadas a sustentação e postura, são mais profundas e consomem menos oxigênio. São as estruturas que usamos para sustentar o corpo na relação com a gravidade, ou seja, são posturais. Suportam ficam em contração por muito mais tempo e demoram muito mais para se fadigarem, muito mais mesmo.

Hum, o que você acha, aqueles músculos que você usa para puxar os ombros para trás, são superficiais ou profundos? São tônicos ou fásicos? Será que é por isso que eles perdem ação depois de um tempo?

Daí, o que a gente faz? Já que aquele músculo que segura os ombros para trás não segura a postura, a gente faz exercício de força com ele pra ele ficar bem puxadinho para trás criando uma noção falsa de postura ideal. Fortalece ele tanto, tanto que agora ele não tem a mobilidade que tinha, não desliza mais entre os outros músculos e não te deixa mais alcançar com as mãos, muito menos permitir que o corpo realize os movimentos que a coluna precisa fazer para que o caminhar seja leve e com menor esforço.

E ainda os ombros caem para frente e a corcundinha ainda aparece. Agora de tanto arrumar, sente que fica dolorido no final do dia.

Oras, porque foi fortalecida exageradamente uma musculatura fásica, que foi feita para se movimentar e não para segurar o corpo! Enquanto isso, a musculatura tônica, que nasceu para isso, tá lá, dormindo.

E agora?

Agora, precisamos ensinar o corpo a “acordar” a musculatura tônica para que ela funcione na hora certa e ao mesmo tempo, ensinar a fásica a descansar e atuar apenas no movimento.

Mas como eu faço para acordar essa musculatura tônica? Tem exercício para ela?

Principalmente através da percepção corporal. Ensinando o contato dos pés com o chão, das penas com a bacia, da bacia com a coluna… Quando o corpo aprende uma boa organização entre as partes não quer mais sair de lá, porque é muito mais gostoso, exige menos esforço. Não adianta fortalecer se o corpo não sabe usar na vida. Tem um texto aqui que fala sobre essas questões de fortalecimento, se você estiver curioso.

No Rolfing, a gente faz isso por 3 vias:

• Tocando nos tecidos do corpo, para ensinar eles que muitas vezes ele podem “fazer menor força constante” ou para acordá-los na relação com as outras estruturas da região. Podemos também tocar para ajudar no deslizamento entre as partes. Diferenciando-as e ao mesmo tempo fazendo-as trabalhar em conjunto.
• Evocando a percepção do cliente para que ele sinta as diferenças na partes do corpo, como funciona a sensação em uma posição do corpo e quando mudamos. As emoções que vem junto também fazem parte.
• Ajudando na coordenação daquilo que foi percebido e tocado, convidando a realizar as coisas de formas diferentes, talvez mais agradáveis de se se fazer, menos cansativas e mais estáveis. As possibilidades são infinitas.

A musculatura tônica acorda com organização e percepção corporal e também dos sentidos.

Vou te ajudar com um exemplo, pratique aí:

• Ficando em pé, descalço, sinta como está seu corpo, não corrija. Apenas perceba a posição das partes.
• Agora, imagine que seu pé mergulha no chão e isso te permite sentir cada pedacinho que encosta no chão. Tome um tempo para sentir esses pedacinhos.
• A caixa torácica, durante o movimento da inspiração começa a ter contato com o ar que está do lado de fora do corpo, no espaço. E na expiração o ar retoma esse espaço.
• A visão ganha espaço e, como se enxergasse um grande campo aberto (o mar, as montanhas, um fazendão) começa a ampliar e ganhar o que chamamos de visão periférica.
• Neste momento a respiração também muda.
• A posição dos pés do chão também mudou.
• Como está seu corpo?
• Caminhe um pouco e sinta o que mudou.
• Dê uma nome para esta sensação que você esta sentido.

Me conta nos comentários como foi…