Teoria polivagal – como cuidar do seu cliente ou paciente em tempos de insegurança
Em tempos de insegurança, saber trazer seu cliente para um estado de segurança durante seu processo de cura é 80% do processo de tratamento.
Quando Stephen Porges descreve a Teoria Polivagal e o conceito de neurocepção, compreender a eficácia dos processos de aprendizagem e tratamento fica muito mais fácil pois, basicamente, quando o indivíduo não se sente seguro, não está aberto para diversos processos corporais e cognitivos.
O que é a Teoria Polivagal?
Stephen Porges descobriu que além do mecanismo clássico do sistema nervoso autônomo, que se baseava em Sistema Simpático (ramificações vindas da medula, mecanismo de luta e fuga) e Sistema parassimpático (nervo vago, estado de congelamento, desligamento ou dissociação) havia mais uma ramificação deste nervo vago, chamando a ramificação mais clássica de vago dorsal e a descoberta do vago ventral. Porges descobriu também que esta ramificação ventral estava associada, quanto em funcionamento, estava ligada a todo um mecanismo de engajamento social, que só acontece quando nosso sistema nervoso detecta segurança.
Sabe-se que quando este sistema de engajamento social está em bom funcionamento, os processos de aprendizagem, criatividade e todo corpo ficam mais “flexíveis” para qualquer processo de mudança e novidade, portanto é muito importante colaborar para que ele esteja funcionando enquanto trabalhamos junto com o cliente e possamos desenvolver uma boa relação terapêutica.
Neurocepção
Para detectar que está se sentindo seguro, nosso sistema nervoso se conecta com outros nervos do crânio que detectam, em nós mamíferos, a presença de predadores e ou situações de insegurança. Esses pares de nervos estão conectados com a audição, a visão, a fala e a expressão facial. Para mais detalhes leia este artigo.
Quando há alterações no vago ventral ou em qualquer um desses pares de nervos relacionados a neurocepção, todo o sistema se modifica, tanto para a segurança quanto para a insegurança. Assim, quando estimulamos a regulação de um, convidamos os outros para se regularem junto. Logo:
- A nossa expressão facial, quando bem articulada e expressiva de modo natural, regula o sistema nervoso do outro através da visão, fazendo com que seu sistema se regule para um modo seguro.
- A nossa voz, quando há prosódia vocal, ou seja, há uma certa variação de tons, regula o sistema nervoso do outro através da audição.
- Colaborar com uma expiração lenta e ritmada, estimula o vago ventral a se regular, organizando os outros sentidos…
Pensando em todas estas questões, como fazer com seu cliente, paciente ou aluno se senta seguro na sua presença e seu sistema nervoso colabore com o processo de tratamento, cura ou aprendizagem:
Na prática online:
- Certifique-se que seu rosto e ombros estejam bem visíveis, com luz suficiente para que seu rosto seja bem visualizado. Teste diferentes posições da câmera e de luz. Se precisar, compre aquelas luzes para colocar atrás da câmera.
- Caso faça parte do seu trabalho mostrar algo com o corpo, certifique-se de retornar o quanto antes para seu rosto na tela e restabelecer contato. O cérebro de quem vê busca rostos e se você estiver lá longe, tornará o vídeo mais cansativo.
- Teste diferentes microfones e grave sua voz para ouvi-la e ver como ela sai. Microfone alto demais estoura o som para quem escuta e vai provocar uma situação bem desagradável.
- Algumas pessoas elevam a voz desnecessariamente para falar a distância dos aparelhos e muitas vezes estes equipamentos já tem regulagem para você não precisar fazer isto, fale normalmente. Monitore sua voz e sua expressão, elas são a ponte relacional entre você e o cliente a distância. Seja natural, porém atento.
- Pergunte como está seu tom de voz para o interlocutor e ajuste às necessidades dele.Mantenha-se presente no seu corpo durante toda a ligação e mantenha contato constante com seu cliente, com cuidado para não ” mergulhar” sobre a tela.
Na prática presencial:
- Com o atual uso de máscaras, grande parte da nossa expressão facial e de interação estará escondida. Lembre-se disso quando estiver usando o rosto para dizer algo e que isso talvez tenha que ser ligeiramente forçado para ser visto ou expressado de outra forma, seja através do corpo ou da voz.
- Considere uma entrevista inicial por vídeo, a distância, para que você e o cliente se conheçam e reconheçam suas diferentes expressões faciais. Anote como ela expressa as diferentes emoções para poder reconhecê-las presencialmente com menos detalhes quando estiverem juntos.
- Algumas máscaras abafam a voz e limitam a comunicação. Procure regular a sua voz para que a comunicação seja clara, sem exageros no tom, se preocupe com a prosódia, se a voz não está saindo mais alta do que precisa e, se tiver dúvida, pergunte para o cliente como está indo.
- Utilize meios corporais de se comunicar, sem ser caricata, mas estabelecendo uma boa relação. Entenda como seu cliente se expressa e se comunique com ela través desta linguagem.
O ambiente:
- Mais do que nunca, o ambiente terapêutico deve trazer segurança. Pense que seu local além de ser realmente limpo, tem que claramente passar a imagem de limpeza.
- Cuide dos aromas: caso utilize, preste atenção para que ele não interfira na percepção do seu trabalho.
- O ambiente deve ser sempre silencioso e tranquilo, atenção para os ruídos externos e internos da sala.
Espero ter colaborado com estas dicas e que você possa ter muito sucesso no processo de evolução dos seus clientes. Até a próxima!